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Memorial do Polo Moveleiro de Ubá
Memorial do Polo Moveleiro de Ubá
Tradição e Memória entalhadas no Tempo
OS PRIMEIROS HABITANTES
Muito antes da chegada dos tropeiros, as margens do Rio Ubá eram habitadas por três grupos indígenas: os coroado, os coropó e os puri.
Até então, a região não era povoada devido a uma proibição real, mas, em busca de novas oportunidades de se explorar melhor as terras da Capitania das Minas Gerais, em 1767, saiu de Mariana uma expedição chefiada pelo Padre Manoel Maria de Jesus que chegou às margens do Rio Pomba, fundando a Freguesia do Mártir São Manoel dos Sertões do Rio da Pomba e Peixe dos Índios Cropós e Coroados, desse modo, Ubá tem as suas raízes com a cidade de Rio Pomba.
Após estabelecer-se na Freguesia do Pomba, o Pe. Manoel iniciou pequenas expedições para catequizar os grupos indígenas da região, sempre às margens dos rios e, dessa forma, foi erguida a primeira capela de Ubá, de barro e folhas de palmeiras, sem a escolha de um santo padroeiro e se a consolidação efetiva de um povoado.
O povoamento de Ubá só ocorreu após a chegada e fixação de alguns desbravadores que estabeleceram relações de escambo e exploração do trabalho indígena para consumo da cana-ubá.
GUIDO MARLIÈRE E DESBRAVADORES
Através da ação do Pe. Manoel Maria de Jesus e da construção da primeira capela, em meados de 1780 a 1790, alguns tropeiros se destacaram como desbravadores na região, estabelecendo relações com os indígenas tanto na catequização quanto na exploração da cana-ubá.
A cana U-Uva era usada para confeccionar suas flechas, de onde surgiria o posterior nome de Ubá.
Em 1813, chegou à região do Presídio de São João Batista, hoje o município de Visconde do Rio Branco, o alferes Guido Thomaz Marlière, com o objetivo de dirimir os embates entre os novos colonos e os povos indígenas da região, já que a Coroa havia declarado guerra aos Botocudos para acelerar o processo de povoamento.
Na Carta Régia, de 13 de maio de 1808, encontram-se ordenaças e orientações para as ações conttra os índios Botocudos e a ocupação da Capitania das Minas Gerais, seguido por Guido e outros desbravadores.
A Carta Régia propunha a “guerra justa” para promover a ocupação do território dos Sertões do Leste fosse pela conversão e assimilação cultural dos indígenas, fosse por seu extermínio.
Guido Marlière foi o Diretor de Índios da Freguesia de São Manoel do Pomba, de São João Batista e aldeias anexas e sua ação aumentou seus poderes, sendo nomeado Inspetor Geral de todas as Divisões Militares de Minas Gerais, em 1820 até 1829,instalando a Diretoria dos Índios, que, a partir de 1810, viu uma entrada crescente de fazendeiros nessas regiões de floresta, que vinham em busca das vantagens oferecidas, como a concessão de privilégios, isenções fiscais e a doação de sesmarias.
Uma das práticas mais comuns do povoamento dessa região foi a formação de aldeamentos para se sedentarizar e formatar os indígenas aos moldes dos modos de vida luso-brasileiro. Nessas aldeias, para o sustento implementou-se a atividade agrícola e, em paralelo, a catequese com a construção de capelas e matrizes, resultando em diversos núcleos urbanos nas Matas Mineiras e, entre elas, Ubá.
Marlière contou com a ajuda de Guido Pocrane, ou Pokrane, conhecido como Cehfe dos Botocudos, um indígena convertido ao cristianismo a partir dos aldeamentos e que foi o o braço direito do Diretor Geral dos Índios, sendo intérprete e catequisador.
NASCE UBÁ
Após alguns anos de ações de desbravadores na região das Matas Mineiras, Antônio Januário Carneiro e seu cunhado José Cesário de Faria Alvim, da cidade de Calambau, atual Presidente Bernardes, chegaram à região do rio Ubá.
A atuação de Antônio Januário Carneiro era baseada no escambo com os indígenas. A exploração da cana-brava era feita em troca de cachaça e a revenda do produto era feita a altos preços para a Europa, rendendo prestígio ao Capitão-mor, que se tornou responsável por todo o Termo de Mariana, tendo poder sobre a administração e a segurança da região.
Com a autorização de Guido Marlière e o custeio dos próprios moradores da região, reconstruiu a antiga capela do Pe. Manoel, tendo como orago da São Januário, santo do dia de nascimento de Antônio Januário Carneiro.
O início das obras da Matriz de São Januário também movimentou o fluxo de trabalhadores para os serviços. Esses homens ficavam sediados na Fazenda Boa Vista, do Capitão-mor Antônio Januário Carneiro, até construírem as suas próprias moradias na chamada Rua de Trás (Rua Santa Cruz). As primeiras construções eram simples, com estruturas em pau-a-pique.
Do ponto de vista de jurisdição eclesiástica, inicialmente, a capela pertenceu ao Curato de São Manoel do Rio Pomba e, apenas em 1811, com a elevação de Presídio de São João Batista à paróquia ela se transferiu.
Nesse período, as terras ao redor da antiga capela foram doadas aos trabalhadores que optaram por se fixar no povoado.
Em 1828, com a morte do Capitão-mor Antônio Januário Carneiro, as obras da Matriz foram suspensas até que seu filho, Antônio Januário Carneiro Filho, retomou-as, inaugurando a Matriz de São Januário em 1841.
Em 07 de abril de 1841, São Januário de Ubá elevou-se á categoria a de paróquia, mantendo franco processo de crescimento e desenvolvimento, culminando com o recebimento da sede do município de São João Batista do Presídio e alcançando o status de vila em 1853.
O passo seguinte foi a instalação da Câmara Municipal no Largo da Matriz, em 1857, quando São Januário de Ubá foi reconhecida como cidade.
São Januário de Ubá teve como produto primário de seu desenvolvimento o café, e a mão de obra de negros escravizados.
O município, devido à sua localização e à má qualidade das estradas na época, tendia a ficar mais isolado em sua região. Essa adversidade fez com que se desenvolvesse o impulso para a autossuficiência e para um rápido desenvolvimento da criatividade para a área da manufatura e de produtos ligados às necessidades mais urgentes.
É nesse ponto que se destacaram ações de cultivos e beneficiamentos de grãos, a área têxtil e o fabrico de ferramentas e utensílios.
No primeiro momento, esse desenvolvimento tecnológico se deu nas fazendas, aproveitando a mão de obra dos escravizados e só em meados de 1890 o cenário passou a contar efetivamente com os imigrantes.